Comprar uma casa de praia às margens do mar verde da Costa do Sauipe, um veleiro ou um jatinho está deixando de ser privilégio de multimilionários. O modelo de propriedade compartilhada, em que um bem ou imóvel de luxo pode ser adquirido em conjunto por um grupo de pessoas, passa a ser visto com menos desconfiança pelos brasileiros e, com isso, mais empresas entram nesse mercado para disputar um público de alto poder aquisitivo.
A oportunidade de empreender nesse segmento foi percebida pela família de velejadores Schürmann durante seminários que promovem para empresários. "As pessoas viam os veleiros e queriam conselhos para comprar um, mas se assustavam quando dizíamos o preço. Foi então que tivemos o estalo de abrir um negócio tendo como base o compartilhamento", conta David Schürmann, um dos sócios da Schürmann Yachts.
A empresa começou este mês as vendas de cotas de veleiros Jeanneau Sun Odissey 42i, um dos mais luxuosos do mundo, de 13 metros de comprimento, com três cabines e dois banheiros. Se uma pessoa fosse adquirir um barco desses na França, onde é fabricado, teria de desembolsar 250 mil (em torno de R$ 560 mil). Para trazê-lo ao Brasil, o custo subiria com o seguro internacional e taxas de importação. Por meio da compra compartilhada, cada um dos quatro cotistas desembolsa 90 mil.
A cota dá o direito de utilizar o veleiro 84 dias por ano, com contrato vigente por cinco anos. A empresa terá bases em Angra dos Reis (RJ), Ubatuba (SP) e Salvador (BA). Um sistema de intercâmbio permite que os donos usem barcos de qualquer uma das bases. "Esse modelo funciona bem no exterior. Na Europa, pessoas dividem bolsas caras e no Japão já compartilham até animal de estimação. Acredito que o negócio vai dar certo aqui", diz Schürmann.
No setor imobiliário, o modelo de compartilhamento está ganhando novas nuances. Depois do sucesso do sistema de time share, em que cada cotista tem o direito de usar o imóvel por um tempo determinado, mas não detém a propriedade, surgem no País os primeiros empreendimentos do tipo fractional (fracionado). A novidade é que o comprador se torna uma espécie de "acionista" do imóvel. Pode até mesmo passar a fatia que detém naquele bem para seus herdeiros.
Um dos empreendimentos a usar o sistema é o Quintas Private Residences, conjunto de casas de luxo na paradisíaca Costa dos Coqueiros, no litoral norte da Bahia. Cada unidade é composta por quatro suítes, deck, piscina e espaço gourmet, em uma área de cerca de 300 metros quadrados. As frações saem por R$ 180 mil.
São 12 proprietários com direito a utilizar a casa durante um mês por ano. Quem quiser comprar uma unidade sozinho precisa dispor de R$ 1,3 milhão.
O empresário Jailson Couto Pinheiro, 33, dono de uma rede de postos de combustíveis, adquiriu uma fração há dois meses. "Fui abordado por uma promoter na região e ganhei uma cortesia para conhecer o local. Gostei muito do que vi. É comparável a um hotel cinco estrelas", conta Pinheiro.
Empolgado com a estrutura do local, ele comprou mais uma fração de outra residência. "Além da minha família, poderei levar amigos", diz o empresário, pai de quatro filhos.
O Quintas Residences é afiliado à RCI, empresa especializada em intercâmbio de férias, o que permite aos proprietários trocar seus dias de lazer na Bahia por outros destinos no mundo. No Brasil, a RCI estima que as vendas de propriedades compartilhadas subam mais de 50% este ano ante 2009. "A expectativa é de que 25 mil famílias entrem nesse sistema este ano", diz Maria Carolina Pinheiro, gerente de desenvolvimento de novos negócios da empresa.
"O brasileiro está perdendo o receio da compra compartilhada. Ele está viajando mais para o exterior e vendo que esse modelo funciona lá fora", diz Maria Carolina. A disseminação do modelo é uma nova manifestação do mercado de luxo no Brasil, avalia o professor do Ibmec-RJ Leonardo Barbosa. "O segmento de luxo é muito focado em varejo, como bolsas e roupas, e a compra compartilhada é voltada para produtos ligados a serviços, que têm muito espaço para crescer."
Atenta ao potencial do mercado, a Helisolutions, que já oferecia helicópteros nesse sistema, entrou agora no mercado de jatinhos. A empresa oferece uma aeronave Phenom 300, da Embraer, com capacidade para até 10 passageiros, por cotas de US$ 3 milhões, valor três vezes inferior ao seu preço total. "Além da dissolução desse valor, diminuem-se os gastos com manutenção praticamente pela metade", explica Rogério Andrade, presidente da empresa.
Matéria de Glauber Gonçalves para O Estado de São Paulo em 29.08.
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